domingo, 15 de fevereiro de 2015

Terra, planeta água?

Foto de Andréa Morais
Gilmar Lessa em sua propriedade, com o que restou de água aflorada da sua barragem

Por Andréa Morais
“... Águas escuras dos rios, que levam a fertilidade ao sertão. Águas que banham aldeias e matam a sede da população...” Infelizmente as ações da água, mencionada nesse trecho da música Planeta Água, de Guilherme Arantes, estão a cada dia, mais raras de acontecer. O planeta tem sofrido com a falta de chuva e alguns desgastes naturais. Se continuarmos assim, vamos voltar à época, em que mudávamos de lugar para encontrar a melhor localização para sobreviver. No passado, os nômades viviam em busca de alimento e descobriram que tratando a terra e cuidando do solo, conseguiam plantar para manter a sua alimentação. Infelizmente, nós não nos preocupamos em manter esses cuidados necessários e estamos sofrendo com a escassez de água. De acordo com pesquisadores, a agricultura é responsável por 72% do gasto da água no país. Alguns países, já sofrem com a falta desse bem natural. No Brasil, a insuficiência de água potável está crescente. A situação de São Paulo é a mais preocupante. Conforme informações publicadas no site da Envolverde (Notícias de Sustentabilidade no Brasil e no Mundo), o nível do sistema Cantareira está medindo menos de 6% de sua capacidade e vem baixando cerca de 0,1% ao dia. Ainda, de acordo com a publicação no Envolverde, segundo o presidente da Sabesp, o sistema pode zerar em março ou, no máximo, em junho deste ano. Isto significa, que seis milhões de pessoas ficarão com enorme escassez e poderão ficar sem nenhuma gota de água. Para o coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos, Oded Grajew, a união e conscientização de todos pode reverter a situação: “Precisamos parar de nos enganar. É fundamental que haja uma grande mobilização de todos para que se tomem ações e medidas à altura da dramática situação que vivemos. Deixar de lado rivalidades e interesses políticos, eleitorais e desavenças ideológicas. Não faltam conhecimentos, não faltam ideias, não faltam propostas. Mas faltam mobilização e liderança para enfrentar este imenso desafio.Todos precisamos assumir nossa responsabilidade à altura do nosso poder, de nossa competência e de nossa consciência. O tempo está se esgotando a cada dia” apelou. Alguns produtores rurais já estão economizando água há algum tempo. Mesmo assim, a falta de chuva tem atrapalhado, bastante, nessa economia. Porém, com o uso consciente e a utilização de recursos naturais da água. Além, de diminuir o gasto, aumenta a renda no meio rural

Foto de Andréa Morais
A falta de chuva destrói plantações, na região da Costa do Sol, no Rio de Janeiro
Para ajudar a solucionar o problema, o Governo Federal criou a LEI Nº 12.787, de 11 de Janeiro de 2013,que dispõe a Política Nacional de Irrigação. Conforme informação postada no site do Governo Federal, o  ACT (Acordo de Cooperação Técnica), cuja vigência é até 31 de dezembro de 2020, a ANA (Agência Nacional de Águas) e os três Ministérios envolvidos (Meio Ambiente, Integração Nacional e Agricultura, Pecuária e Abastecimento) deverão desenvolver uma proposta de Política Nacional Integrada de Conservação de Água e Solos.  Além disso, se comprometem a trabalhar conjuntamente na implementação da  Política Nacional de Irrigação  e do Sistema Nacional de Informações sobre Irrigação.  A Política Nacional de irrigação tem como alguns dos seus objetivos, incentivar a ampliação da área irrigada e o aumento da produtividade em bases ambientalmente sustentáveis e reduzir os riscos climáticos inerentes à atividade agropecuária, principalmente nas regiões sujeitas a baixa ou irregular distribuição de chuva. Os Projetos Públicos de Irrigação poderão ser custeados pela União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, isolada ou solidariamente, sendo, neste caso, a fração ideal de propriedade das infraestruturas proporcional ao capital investido.  As unidades parcelares de Projetos Públicos de Irrigação considerados, na forma do regulamento desta Lei, de interesse social, serão destinadas majoritariamente a agricultores irrigantes familiares. O ACT também estimula programas conjuntos de incentivo ao uso eficiente da água na agricultura irrigada. Com o Acordo, as quatro instituições federais se comprometem a desenvolver um programa de capacitação com foco na gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos no campo. E, ainda, deverão atuar em parceria para ampliar o Programa Produtor de Água,  da ANA , e estimular outras iniciativas que incentivem o pagamento por serviços ambientais no meio rural. A cooperação também estabelece que as instituições devem elaborar propostas de aprimoramento das atividades regulatórias da ANA relacionadas ao campo, principalmente a outorga de direito de uso de recursos hídricos para irrigação.

 Foto reprodução da pesquisa de Aurineuma Carneiro postada no Ebah
Parte da obra de uma barragem subterrânea
Segundo informações publicadas no site do Ebah (uma rede social dedicada exclusivamente ao campo acadêmico e tem como principal objetivo o compartilhamento de informação e materiais entre alunos e professores.), postada por Aurineuma Carneiro. A barragem subterrânea é uma solução para regiões de clima árido. Usada com sucesso em regiões semi-áridas. É uma alternativa de baixo custo contra a seca. Existe alguns tipos de barragem: modelo caatinga, Modelo Costa e Melo e modelo CPATSA/Embrapa(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/CPATSA coordena e executa projetos de pesquisas em parceria com instituições públicas e privadas, destinado a gerar e/ou adaptar tecnologias nas áreas de agricultura irrigada e sequeiro, pecuária, preservação ambiental, reflorestamento de áreas degradadas da caatinga, biotecnologia agrícola, socioeconomia e desenvolvimento rural.) 
Foto reprodução do vídeo da Embrapa postado no Youtube
Parte do vídeo que mostra a construção de uma barragem subterrânea
No vídeo publicado pela Embrapa, no Youtube, em 30 de junho de 2014. O Analista da Embrapa, José Figueiroa, a pesquisadora, Sonia Lopes, o Coordenador P1 + 2 - ASA Brasil, Antônio Barbosa e o agricultor Edésio Alves falam de suas experiências, sobre a barragem subterrânea.  Nele, apresentam os benefícios que a tecnologia da barragem subterrânea, disseminada pela UEP-Recife, vinculada a Embrapa Solos (RJ), por meio do projeto “Barragem subterrânea: promovendo o aumento ao acesso e usos da água em agroecossistemas de base familiar do Semiárido do Nordeste”. 

Foto de Rodolfo Nóbrega/Reprodução da publicação no site  slideplayer
Parte da construção de uma barragem feita com pneus
Existe outras maneiras  de utilização da água de forma sustentável. É o que Rodolfo Nóbrega mostra, em sua pesquisa sobre o aproveitamento da água da chuva – uma tecnologia para a convivência com o semi-árido , da Universidade Federal de campina Grande publicado no slideplayer , realizada em outubro de 2008. 

Foto de Andréa Morais
Pluviômetro instalado na propriedade de Gilmar Lessa
Em Iguaba Iguaba Grande, cidade do interior do estado do Rio de Janeiro; ao contrário do significado de seu nome, que em Tupi Guarani significa fonte de água potável, o município está vivendo uma das piores secas, desde agosto de 2014.  Para sobreviver às adversidades, alguns produtores rurais utilizam a água de maneira sustentável. De acordo com o produtor rural, Gilmar Lessa,que tem um pluviômetro para medir a chuva. Nos meses de maio a julho choveu 335 mm. e de agosto até fevereiro choveu cerca de 100 mm.: “Estamos há seis meses com uma chuvinha fraca, que chegou no máximo 25mm. por chuva. Foram quatro ou cinco chuvas. E o vento vinha e evaporava tudo. Já, em maio, junho e julho choveu, aproximadamente 335 mm. O que me deixou animado. Cheguei a dizer que teríamos bastante água. Mas, não choveu mais e o vento acabou com o reservatório da barragem”, lamentou. Gilmar foi beneficiado com a implantação de uma barragem subterrânea em sua propriedade, em 2002.  A obra foi custeada pela Pesagro-Rio (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro). E, ainda, ganhou a bomba hidráulica, necessária para a irrigação da sua plantação. Na época, o valor estimado foi de R$ 3.500,00. 

Foto reprodução da revista "Gente do Campo" de dezembro de 2003- Emater - Rio
Gilmar Lessa, em sua propriedade, mostrando a barragem subterrânea recém implantada
De acordo com as informações publicadas na revista “Gente do Campo”, dezembro de 2003, da Emater-Rio (Empresa de Assistência Técnica e  Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro), onde Gilmar foi personagem da reportagem sobre a implantação da sua barragem subterrânea. Para uma propriedade com 0,3 hectares, um reservatório de um a dois milhões de litros de água é o suficiente para manter uma plantação por mais de dois meses. Nessa mesma edição, a engenheira agrônoma, Yara Melo de Freitas informou que as características da região da Costa do Sol são semelhantes às do Nordeste. Onde, o índice anual de precipitação de chuvas é de 900 mm. Enquanto, a evaporação é de 1.400 mm. Por isso, a água que permanece no solo evapora com rapidez, provocando as secas. Nos primeiros anos da implantação da barragem subterrânea, Gilmar teve uma colheita proveitosa: “Em um ano de barragem, eu colhi sete toneladas de maracujá. Com o tempo, troquei o maracujá pela banana, para fornecer para merenda escolar”, disse.( De acordo com a Lei nº 11.947, em que é feita a aquisição de produtos da agricultura familiar para o PNAE(Programa nacional de Alimentação Escolar).

Foto de Andréa Morais
Uma parte das bananeiras de Gilmar Lessa

Ainda, segundo a revista da Emater-Rio. O método utilizado na propriedade de Gilmar permite transformar o próprio solo em reservatório natural para as águas das chuvas. Como funciona? A barragem subterrânea, retém a água da chuva que escoa na superfície e no sub-solo. Para que isso aconteça, uma parede é construída em sentido perpendicular à direção de escoamento das águas, o que faz com que a chuva se infiltre lentamente no solo, criando ou elevando o lençol freático. O trabalho começa com a seleção da área, na qual, as mais indicadas são os leitos de rio, linhas de drenagem natural e terrenos em declive. Então, é feito uma valeta com 80 cm. de largura, que é cavada ao longo da área, onde ficará a barragem. Além de servir para a movimentação de terras, servirá para acomodar a parede de contenção. Uma lona de polietileno é esticada ao longo da valeta, com cuidado para não deixar bolhas de ar e evitar furos.
Foto de Andréa Morais
Gilmar Lessa vende sua produção na Feira do Pequeno Produtor Rural de Iguaba Grande
Na mesma reportagem da revista “Gente do Campo” informa que o plantio de árvores frutíferas é o mais indicado. E que o produtor pode recuperar o investimento, já na primeira colheita.No caso de Gilmar, rendeu 500 quilos de maracujá. Hoje, 13 anos após o uso sem manutenção, por falta de mão-de-obra e dinheiro, a barragem está um pouco danificada. Porém, Gilmar, ainda utiliza, às vezes, a pouca água que aflora da barragem, com a ajuda da bomba, para a irrigação por gotejamento (molha, somente o solo, a raiz. Por isso, nem tudo pode ser irrigado por gotejamento) e com a ajuda de uma borracha irriga a sua plantação. Com a seca, Gilmar está se virando como pode. Todo sábado vende sua colheita na Feira do Pequeno Produtor Rural. Além, de fornecer banana para a merenda escolar e vender caldo de cana na porta de casa, todos os dias de 13h às 19h. –Aliás, não posso deixar de comentar, que experimentei o famoso caldo de cana do Gilmar, com limão. É de babar! O copo de 300 ml. Custa R$ 2,00 e as frutas, verduras e legumes, que vende na feira têm preços variados de R$ 2,00 à R$ 4,00.  Gilmar é um dos poucos produtores da cidade, que consegue sobreviver da sua produção,mesmo, com a seca que atinge o nosso planeta.

 Foto de Frederico Pacheco (Secretaria de Agricultura de Iguaba Grande)
A máquina da Patrulha Mecanizada Municipal, atuando na limpeza da lagoa do produtor e pecuarista Marco Antônio
De acordo com o secretário de Agricultura, Abastecimento e Pesca, Thiago Dutra, a  secretaria junto com a prefeitura está atuando com o programa da Patrulha Mecanizada, um projeto do Governo do Estado do Rio de Janeiro, para atender os produtores rurais na recuperação das estradas vicinais,deixando o acesso à área rural em bom estado de circulação, facilitando o caminho para área urbana. E  para fazer a limpeza das lagoas nas propriedades dos produtores rurais; Existe o programa da Patrulha Mecanizada Municipal, em que as máquinas fazem a limpeza dessas lagoas: "O município está sofrendo com a seca há dois anos. E desde então, estamos trabalhando com o desassoreamento das lagoas.Assim, facilitará o aumento do lençol freático. O qual, estava muito baixo. A lama chegava a atingir 50 cm. Dessa forma, quando chover as lagoas serão abastecidas e vão servir como reservatório.O qual, será usado na irrigação e na dessedentação do gado", informou. O pecuarista e produtor rural Marco Antônio Barcelos foi um dos beneficiados , pela limpeza de sua lagoa: "Agora meu gado tem onde beber água. Antes isso era lama pura. Agradeço muito à prefeitura por tudo o que fizeram por mim e minha família”, declarou. Marco Antônio possui cerca de 50 cabeças de gado leiteiro. Além de vender leite, produz queijo. Ainda, segundo Thiago Dutra, as propriedades estão apresentando a depredação ambiental, estão com falta de mata nativa: "Por isso, estamos fazendo um trabalho de consciência ambiental com os produtores rurais. E Junto com a secretaria de Meio Ambiente estamos trabalhando na implantação da mata ciliar. Para isso, o Horto Municipal está confeccionado mudas de plantas nativas, para ser feito o plantio em torno das lagoas, criando a mata ciliar.  Mata essa, que traz vários benefícios. Entre eles, evitar que a lamina d’água reduza novamente, porque a mata ciliar, não permite que os sedimentos caiam dentro da lagoa. Além do que, aqui, na nossa região tem muito vento nordeste, que, junto com o sol causa uma perda hídrica, muito grande. A mata ciliar vai ajudar com que o vento não tenha muita influência sobre a água, diminuindo essa perda. Até a qualidade da água melhora. Porque ela também funciona como filtro", explicou.Thiago Dutra, lamentou o fato de que a seca prejudicará a colheita do próximo ano. Mas, acredita que a recuperação das lagoas e a implantação da mata ciliar irão ajudar aos produtores rurais no cultivo de suas plantações.





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