quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Promessa Cumprida

Realizei um sonho, cumpri uma meta, e para fechar com chave de ouro estou cumprindo minha promessa.A publicação do meu artigo apresentado e publicado no  XXXIII INTERCOM



A meteorologia no telejornalismo contemporâneo:
Um estudo de caso do programa “Jornal Hoje” [1]

Andréa Maria de MORAIS[2]
Heloiza Beatriz Cruz dos REIS[3]
Universidade Veiga de Almeida, Cabo Frio, RJ.

Resumo

Este artigo é produto do trabalho de final de curso, intitulado, A meteorologia no telejornalismo contemporâneo: Um estudo de caso do programa “Jornal Hoje”. Para desenvolver o estudo foram utilizadas revisões bibliográficas e gravações do programa. Observamos a relevância do tema para a sociedade e as inovações presentes no quadro em questão, representadas pela comunicação especializada como: a linguagem, que aparece de forma mais coloquial e interativa, seja pela internet ou entre a apresentadora do quadro e os âncoras do jornal; a imagem com a utilização de links e ilustrações com infográficos. Em suas características: a presença do jornalismo científico na prestação de serviço.

Palavras-chave

Comunicação Especializada; Telejornalismo; Meteorologia; Tecnologia.


Introdução: a linguagem e a imagem no telejornalismo
A linguagem absorvida do rádio, é a marca do início do telejornalismo na década de 50, com textos curtos e locução dramática. Na televisão, porém, além do discurso verbal, existe o discurso interpessoal: da imagem, do sinal e do gesto, impressos pelos profissionais da área. Utilizaremos as observações de Jésus Martín Barbero (1997) e Milton José (2002), que falam a respeito. “Os rostos da televisão serão próximos, amigáveis (...). Um discurso que “familiariza” tudo torna “próximo” até o que houver de mais remoto e assim se faz incapaz de enfrentar os preconceitos mais “familiares””. (BARBERO, 1997:297). Para complementar a observação de Barbero (1997), Milton José Pinto (2002), em Comunicação e Discurso: Introdução à análise de discursos, aborda uma análise do discurso sobre os chamados “argumentos éticos e patéticos”, que se destinam a capturar a aprovação do público pelo lado emocional, com a criação de imagens simpáticas e empáticas do apresentador e de seu público, respectivamente. São hoje chamados pelos analistas de “efeitos de sentidos, em que utilizam a linguagem verbal e outros sistemas semióticos, como as imagens com três funções: a de Mostração, que constrói uma referência no discurso de seu texto ao local; a de Interação,  a qual estabelece os vínculos socioculturais necessários para dirigir-se ao seu interlocutor; e a de Sedução, que distribui os afetos positivos e negativos de forma reconhecida pelo receptor.Essas funções se realizam de forma integrada, a separação entre elas é apenas para uma apresentação didática.
As observações de Barbero (1997) e Pinto (2002) ajudam a entender a preocupação da linguagem apresentada pela imagem dos apresentadores, no sentido de atrair mais telespectadores pelo envolvimento dos “efeitos de sentidos”. Portanto, como não vamos pesquisar os receptores neste trabalho, não pretendemos estudar o consumo dos “efeitos de sentidos”. Nesta pesquisa será feita uma apresentação das observâncias quanto às mudanças estabelecidas na utilização da linguagem verbal, principalmente da apresentadora do quadro de previsões meteorológicas do Jornal Hoje (JH), por conta dos avanços tecnológicos e da interatividade para uma comunicação especializada.
A jornalista Vera Íris Paternostro, que trabalhou como editora-chefe do JH, aponta em O Texto na TV, para a responsabilidade da linguagem utilizada, ao afirmar que “(...) a televisão estimula e provoca o interesse e a necessidade de se ampliar o conhecimento dos fatos.” (PATERNOSTRO, 1999: 64).  O objetivo é que haja um aproveitamento maior da informação passada ao telespectador, uma linguagem adequada, com um nível de detalhamento que facilite o entendimento. O jornalista William Bonner, atual apresentador e editor chefe do Jornal Nacional, no livro Jornal Nacional: modo de fazer, acrescenta sobre a importância na construção das frases: “(...) é preciso construir frases com início, meio e fim na ordem direta (porque orações invertidas, quando ouvidas, dificultam muito mais a compreensão, além de não serem usadas naturalmente na linguagem oral)” (BONNER, 2009:217).
Paternostro (1999) também acredita que a utilização de uma linguagem coloquial trabalhando em conjunto com as organizações das imagens torna mais fácil o entendimento e atrai a atenção do telespectador. “Como a imagem está sempre em destaque na TV, as informações visuais serão bem captadas pelo telespectador.” (PATERNOSTRO, 1999:75, 76). A linguagem coloquial está cada vez mais próxima do cotidiano do telespectador, a fim de facilitar o entendimento.
Em meio à turbulência de inovações, novas linguagens vão sendo testadas na televisão. Com o avanço da tecnologia, os recursos visuais são de extrema importância no jornalismo informacional para facilitar, ao máximo, o entendimento do telespectador de diferentes regiões. À luz de Sebastião Squirra (1995), em Aprender Telejornalismo, isso se justifica porque “a imagem não tem fronteiras. Apesar de algumas diferenciações regionais, ela pode ser decodificada por qualquer cidadão, de qualquer parte do planeta, sem muitas dificuldades” (SQUIRRA, 1995:53). O autor ainda atenta para a ideia de que a imagem bem construída, junto com um discurso convincente, é a dobradinha sedutora do telejornalismo. “O jornalismo televisual tenta utilizar de todo o poder de convencimento e credibilidade das imagens. Isto pode ajudar na compreensão e evitar o que poderia ser chamado de ‘superficialidade’ da informação na televisão” (SQUIRRA, 1995:57).
A partir dessas observações, voltamos a falar da linguagem para apresentar outra importante mudança no telejornalismo: a interatividade. No livro Inovação no Telejornalismo: o que você vai ver a seguir, Carlos Alberto Moreira Tourinho (2009), nos desperta para a constante evolução na técnica apresentada no telejornalismo contemporâneo com a presença desse elemento. A nova “roupagem” do telejornalismo e de todas as mídias latino-americanas teve como grande responsável a globalização. Por conta dessa integração mundial de hábitos, produtos, conhecimentos etc., os telejornais invadiram a internet e são transmitidos via satélite para vários países. “O telejornal se reorganiza e revê métodos diariamente. Ganha uma série de ferramentas que vai garantindo mais agilidade, contato com múltiplas fontes e possibilidades de ser visto por mais espectadores”. (TOURINHO, 2009:134).
A interatividade trouxe a mudança da linguagem no telejornal, que está, a cada dia, mais informal, além da participação da sociedade não só como mero receptor de mensagens, mas também como produtor: participa na sugestão de pautas, na produção de matérias, enviando imagens registradas. Isso torna o programa ainda mais interativo e assim, se fortalece com a combinação, o que possibilita a liderança na audiência, além de acompanhar os avanços que a globalização exige, para se manter no mercado. Para Ramón Salaverría (Apud TOURINHO, 2009), o fato traz a possibilidade de assistir à televisão de formas diferentes e define o principal vetor das mudanças atuais: a internet. “Isto gerou novos hábitos de consumo deste tipo de conteúdo e está provocando uma migração da audiência afetando tanto a televisão tradicional quanto outros suportes de recepção (...)”. (SALAVERRÍA, apud TOURINHO, 2009:96).
Com as novas tecnologias da informação, a instantaneidade, a interatividade, a abrangência e a liberdade não têm fronteiras. A informação se renova permanentemente. À medida que a internet se torna acessível e simples de usar, as sociedades de classes sociais diferentes se misturam, criando a interatividade social.
Todas as observações dos autores citados ajudam a entender a presença da comunicação especializada, com as mudanças e os avanços tecnológicos, com a utilização da imagem e da linguagem, que vem criando o novo formato na apresentação dos telejornais.  Mais adiante, apresentaremos como o quadro de previsões meteorológicas faz uso desses elementos.

Meteorologia no telejornalismo: relevância social
A meteorologia é abordada na TV para satisfazer o interesse coletivo.  De acordo com Luiz Beltrão, jornalista de conceito internacional, na obra Imprensa Informativa: Técnicas de Notícia e de Reportagem no Jornal Diário (1969), por conta desse interesse, o jornalismo não pode deixar de apresentar fatos atuais, que estão agitando a consciência da sociedade. “A expansão dos serviços públicos são objetos de atenção constante do jornalista pela sua representação” (BELTRÃO, 1969).
As previsão do tempo, como prestação de serviço, era apresentada apenas como uma nota, desde o início do telejornalismo no Brasil. A tecnologia trouxe mais possibilidades de informação, tanto para a meteorologia, com a ajuda de computadores, quanto para a exibição do quadro e de suas previsões na TV, as quais, além dos equipamentos tecnológicos utilizados, possibilitaram a presença do jornalismo científico, trazendo informações meteorológicas mais aprofundadas.
Segundo Tourinho (2009), foi a partir do início dos anos 1990 que a meteorologia passou a ter mais importância no conteúdo dos telejornais em várias emissoras do mundo.  No JH, podemos observar a maior visibilidade do quadro em questão, após as mudanças realizadas, com a presença de uma jornalista fixa e da utilização de mapas e ilustrações com infográficos e imagens. As jornalistas Luciana Bistane e Luciane Bacellar, autoras da obra Jornalismo de TV (2005), despertam para a disputa pela atenção dos telespectadores no telejornalismo. “O público gosta de receber informação, mas de maneira interessante.” (BISTANE & BACELLAR, 1995:86). As autoras ainda notam na proposta do jornalismo público, a restrição do número de temas e o aprofundamento das informações. Acompanhando o raciocínio, Tourinho (2009) acredita que o conhecimento é o motor para as mudanças na sociedade e aposta que o combustível é a tecnologia; enquanto a Doutora em Jornalismo Científico Fabíola Oliveira (2002), na obra Jornalismo Científico, completa, sobre o assunto apresentado pelos autores já citados, a soma do motor (conhecimento) ao combustível (tecnologia), chamando a atenção para a ética no jornalismo científico. “O jornalista que quer fazer trabalho sério de cobertura das questões ambientais deve saber sobre o que está falando”. (OLIVEIRA, 2002:58).
As possibilidades climáticas, os avanços tecnológicos e a presença do jornalismo científico aguçam o interesse público para as informações do quadro de meteorologia no telejornalismo. Por conta da importância do assunto, Oliveira desperta a atenção para a seriedade do tema, no processo de produção científica e tecnológica: “(...) É atividade estritamente humana, e que a ciência por si só não é capaz de salvar ou destruir o planeta, mas sim o uso que dela se faz”. (OLIVEIRA, 2002:58).
É possível observar que, desde os primórdios, a meteorologia já fazia parte da vida das pessoas, o interesse era saber se iria chover ou fazer sol. Segundo Antônio Divino Moura[4], Ph.D. em Meteorologia e atual Diretor Geral do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o uso da tecnologia para a previsão da meteorologia é imprescindível. Computadores de última geração, satélites, radares e muitos outros equipamentos, além de profissionais qualificados garantem a qualidade do serviço.
De acordo com Nélson Ferreira[5], Presidente do Sistema Brasileiro de Meteorologia (SBMET), a informação meteorológica é indispensável para o desenvolvimento sustentável do país com a realização das previsões do tempo e do clima. “As previsões do tempo orientam os setores produtivos de nossa sociedade, como a atividade agrícola, a geração de energia, os meios de transporte, a saúde, a defesa civil, o turismo, e o dia-a-dia da população”. Acompanhando a informação de Ferreira, percebemos que as previsões climáticas são de extrema importância para a Marinha e a Defesa Civil, por influenciar nas tomadas de decisões na segurança e na eficiência das operações de vôo, além de serem decisivas no melhor aproveitamento do espaço aéreo. Conforme afirma Marcio Moura Motta[6], Coordenador Operacional de Defesa Civil do Município do Rio de Janeiro, “Quanto mais pudermos informar as comunidades com alertas e alarmes, teremos mais condições de evitar danos às pessoas”.
As mudanças climáticas percebidas no planeta, desde 1990, principalmente pelos impactos ambientais, desequilibram os ecossistemas. O aquecimento global, a diminuição da camada de ozônio, por exemplo, acontecem por conta do avanço econômico e tecnológico sem a preocupação com o meio ambiente[7]. De acordo com Ferreira, estas ocorrências estão associadas com a dinâmica do Clima que modula os fenômenos meteorológicos ocorrentes em nosso Planeta.Nas últimas décadas houve um aumento significativo do desmatamento, queimadas, atividades industriais e emissões de CO2. Isso está contribuindo para o aumento da temperatura média do Planeta”. (FERREIRA, 2009) [8].
 Percebe-se que a meteorologia é um assunto bastante complexo. Segundo Moura (1986), no artigo É possível resgatar o tempo perdido?, a atmosfera é basicamente uma mistura de gases, constantemente em movimento que leva os cientistas a solucionar difíceis equações matemáticas advindas dos processos atmosféricos, como o aquecimento solar, a liberação ou absorção de quantidade  de calor, ou seja, ao que denomina tempo.
Com o avanço tecnológico, as previsões têm ficado cada vez mais precisa, é o que afirma Luiz Cavalcanti, Meteorologista e Chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo (CAPRE) no INMET. “A margem de erro de uma previsão meteorológica está entre 5% e 10%. A dinâmica da atmosfera é o motivo dos erros nas previsões”. (CAVALCANTI, 2009) [9]. O autor diz ainda que a Rede Globo fornece a previsão do tempo e do clima, utilizando dados do INMET.
No cenário da meteorologia, o jornalismo científico ganha destaque, conforme aponta a jornalista Viviane Alves de Oliveira (2009) no artigo “Faça Chuva ou Faça Sol – A importância da Previsão do Tempo”. Por conta da necessidade de se ampliar o conhecimento do telespectador, percebe-se o crescimento do jornalismo científico no telejornal. Nesse sentido, Oliveira (2002) cita a Jornalista e doutora em Lingüística, Isaltina Maria de Azevedo Mello Gomes, para ajudar-nos a entender tal fato. “(...) O jornalismo científico contribui para diminuir a distância entre o cidadão comum e a elite científica. Também funciona como mecanismo que possibilita à elite prestar contas à sociedade, que é quem acaba financiando as pesquisas” (GOMES apud OLIVEIRA, 2002:54).

Estudo de caso: o quadro de previsões meteorológicas do “Jornal Hoje”
Com as mudanças tecnológicas o JH ganhou agilidade. A geração via satélite trouxe a possibilidade de estar em todas as partes do planeta e deixar o telespectador em dia com as notícias nacionais e do mundo. A previsão do tempo era apresentada no formato de nota seca, seguindo as influências do rádio, já que tais informações são dadas na TV desde o seu início. Uma das mudanças da linguagem utilizada foi o desuso de adjetivos, segundo Bonner (2009). O autor explica que telespectadores escreviam para a redação e alegavam que o tempo bom em uma região, poderia não ser para os moradores de outra região, como, por exemplo, o que é tempo bom para ir à praia, não é para a lavoura. Os avanços tecnológicos possibilitaram o uso da nota coberta, como ainda acontece no JH, aos sábados.
Os avanços tecnológicos iniciaram com a evolução da linguagem e das imagens utilizadas para facilitar o entendimento do telespectador. Tais avanços possibilitaram a presença da meteorologia de uma maneira muito mais ampla do assunto, principalmente, com as informações ilustrativas, o que vai além de uma simples previsão climática. Por esse motivo, nesta pesquisa, nomeamos o quadro de previsão do tempo do programa “Jornal Hoje” de: “Quadro de previsões meteorológicas”. 
 Para ilustrarmos as observações no quadro de previsões meteorológicas do JH, em seu modo de aparecer, interagir e as inovações apresentadas, estudamos o programa do dia 18 de janeiro a 04 de fevereiro de 2010.  A escolha da data para a gravação foi definida, por ser verão – período considerado de maior probabilidade de mudanças climáticas. De fato, foi isso que ocorreu neste ano, ainda com a presença do fenômeno El Niño, o que trouxe fatos importantes para a análise da apresentação do quadro em questão.
Por ser de interesse público, o quadro de previsão meteorológica possui característica de Prestação de Serviço. A jornalista e especialista em telejornalismo Tyciane Cronemberger Viana Vaz (2009), em seu artigo sobre Jornalismo de Serviço: O gênero utilitário na mídia impressa brasileira, fala das características do gênero utilitário - também observadas no quadro desta pesquisa -, com a proposta de orientar o receptor, proporcionando-lhe uma informação útil, que poderá ser necessária de imediato ou no futuro, a fim de ajudar a tomar decisões em suas ações cotidianas. “Dessa forma, o jornalismo utilitário não se insere nas classificações dos gêneros jornalísticos hegemônicos: opinativo e informativo.” (VAZ, 2009).
No mesmo artigo, a autora cita Marques de Mello (2007) que, ao classificar o gênero utilitário em alguns formatos, destaca a presença do serviço no formato indicador. “Apresenta dados fundamentais para a tomada de decisões cotidianas, como a meteorologia, economia, etc.” (MELLO, Apud VAZ, 2009).
O quadro em questão ainda expõe, em sua estrutura, características que Paternostro (1999) cita como importantes para um texto de TV: a informação visual, que facilita o entendimento do telespectador; o imediatismo, o qual, com a ajuda de satélites mostra as imagens de matérias correlatas às informações; o alcance, em que, com o assunto apresentado não distingue classe social e é apresentado de forma a atingir todos os públicos; a instantaneidade, por ser uma informação passada na TV, é captada de uma só vez, não tem como voltar; e o envolvimento,  como qual o apresentador do quadro tem uma forma pessoal de contar a notícia, que seduz e atrai o telespectador.
Observamos a presença dos três elementos fundamentais na construção do programa jornalístico, de acordo com Beltrão (1969). São eles: os tipos - características personalizadas; a ação - ter bem calculados a apresentação, sua sequência, seu desenlace, seus efeitos, de modo a provocar o interesse; o ambiente - a descrição expositiva da ocorrência, do local e das condições sociais, culturais e econômicas contidas nele. Além desses elementos, encontramos também algumas classificações das notícias existentes no quadro feitas por Beltrão (1969): Previsíveis - por estar relacionada pela frequência e regularidade dos fatos, o que ocorre nas informações dos mapas apresentados sobre a temperatura e previsões de chuva ou sol nas cidades do país; Extraordinárias - quando transmitem informações de acontecimentos inesperados, como catástrofes relacionadas ao clima; Sensacionais - por provocarem comoção na sociedade, ao apresentar matérias como enchentes, desabamentos e outras catástrofes.
 Já em Notícia: Um Produto à Venda, a jornalista e pesquisadora Cremilda de Araújo Medina (1988) desperta para a presença educativa do jornalismo Informativo: “Seria uma mensagem de divulgação de conhecimentos científicos. A presença desse tipo de mensagem realmente vai tomando espaços na imprensa urbana em ascensão (...). Entretanto, uma notícia científica é jornalismo informativo”. (MEDINA, 1988:71).
Assim como observado por Medina (1988), Beltrão (1969) é também um dos autores que acredita no conhecimento científico como complemento da educação geral. Inclusive, ele observa o fato de o jornalista especializado estar cada vez mais presente em reportagens sócio-culturais e repara no crescimento do interesse público pela informação científica. Oliveira (2002) desperta para o fato de o jornalismo científico não se restringir a cobertura de assuntos específicos da Ciência e Tecnologia (C&T), mas para facilitar o entendimento científico, de qualquer fato ou acontecimento de interesse jornalístico. Ressalta ainda, para o casamento da ciência e do jornalismo. “(...) Isto é, o jornalismo que usa a informação científica para interpretar o conhecimento da realidade”. (OLIVEIRA, 2002:43).
Pierre Bourdieu (1997:82), no livro Sobre a Televisão, além de chamar atenção para importância da ciência no telejornalismo, por conta da credibilidade que o assunto traz e também para possibilitar a diversidade de assuntos, faz observações para a utilização da manipulação na informação apresentada pelos jornalistas.
Sobre esse entendimento, existem alguns autores que observam a persuasão do jornalismo, seja por conta da linha editorial ou até mesmo pelo modo que o jornalista concebe a informação. Michael Kunczik (2002) desperta para a presença da manipulação, desde a escolha do assunto a ser abordado: “(...) a propensão dos jornalistas a escolher, entre uma avalancha de relatos e eventos, só aqueles que combinam com suas próprias opiniões e/ou as da sala de redação”. (p.255).
Uma das formas de manipulação, que também pode estar presente no jornalismo científico, acontece por interpretação errônea, o que pode deformar a informação. Há diversos autores que pesquisam esse tema, mas, pela delimitação deste trabalho, não iremos aprofundá-lo. Existem outros fatores que, ao falar da presença do jornalismo científico no quadro, iremos observar: a importância da didática na informação e na audiência. Ambos se apresentam como assunto de interesse para o telespectador e, com a ajuda dos avanços tecnológicos, criam um diferencial em relação aos outros programas, o que acontece no quadro de previsões meteorológicas do Jornal Hoje (JH), conforme apresentaremos a seguir.

Estrutura da comunicação especializada
O quadro de previsões meteorológicas do JH é exibido de segunda a sábado, normalmente no primeiro bloco, mas, por conta da quantidade de informações, a aparição pode ser transferida. Outro aspecto marcante no quadro em questão é a presença de matérias correlatas antes e após a sua exibição, em sua maioria. De segunda a sexta, tem a presença de uma apresentadora, que comanda as previsões com o auxílio de imagens, ilustrações, entrevistas e interações entre âncoras e repórteres. Nos sábados, as previsões são apresentadas pelo âncora do JH, na forma de nota coberta, com a presença somente dos mapas das previsões climáticas, de temperatura e, eventualmente, de umidade do ar.
A comunicação está baseada nas propriedades do audiovisual: a linguagem e a imagem, com uma estrutura discursiva dentro dos padrões apresentados por Beltrão (1969), com os três elementos básicos: o comunicador, com a iniciativa de diálogo; a mensagem, com as palavras dirigidas para informar, orientar e entreter o telespectador, que é o terceiro elemento.  Há, ainda, outros dois elementos: o veículo, no caso a televisão, que se apresenta de forma informativa; e o intermediário, presente na figura do especialista, que colabora ativamente com o jornalista. Já a imagem aparece para complementar o texto falado, como já foi abordado por Paternostro (1999), a fim de ajudar o telespectador a captar a informação. Além da ajuda na compreensão, Squirra (1995) observa o poder de convencimento e credibilidade que as imagens possuem.
Outra característica observada foi a preocupação em acompanhar os avanços tecnológicos. Para evidenciarmos essas observações, identificamos oito dos dez itens apresentados no Novo Pré-espelho que Tourinho (2009) criou, com base em ideias retiradas do conjunto de informações adquiridas no processo de pesquisa para conclusão de seu livro em um estudo comparativo com as novas mídias. A sequência de observações será ordenada por esses oito itens.
No item internet, Tourinho (2009) observa: “O telejornalismo tem que estar preparado para utilizar diferentes formas que não somente a tela da TV, [complementa] (...) E terá de prestar mais serviço como informações de trânsito e meteorologia”. (TOURINHO, 2009:228).
Com a utilização da internet, é aberta uma ponte para a interatividade entre os internautas e telespectadores. Isso pôde ser observado no quadro de previsões meteorológicas, na gravação do dia 19 de janeiro de 2010, com a interação de Flávia Freire, apresentadora do quadro em questão, e Evaristo Costa, o âncora do JH. Freire, antes de apresentar as previsões do dia, corrige uma informação dada no dia anterior, com a ajuda de Costa, após diversas mensagens recebidas pelo Twitter (página de relacionamento, na internet do JH.). Os internautas informaram que Barbacena fica em Minas Gerais, e não no Rio de Janeiro, como a apresentadora havia informado. Ainda em uma matéria correlata, exibida após o quadro de previsões meteorológicas no dia 27 de janeiro, Sandra Annenberg, âncora do JH, finalizou no estúdio, com as informações obtidas por telefone, após o contato, pela internet, de dona Suely Pavan, em que pede ajuda às autoridades brasileiras para irem buscar o filho no Peru.
As observações acima levam para outro elemento presente no programa em questão. A colaboração, tanto no caso do pedido de ajuda da dona Suely Pavan, como na sugestão de pauta, ao informar sobre o parente estar no Peru. Também houve a colaboração de uma estudante brasileira, que forneceu informações, por telefone, da sua situação vivida no país, na mesma matéria do dia 27 de janeiro.
Podemos utilizar das mesmas observações para acrescentá-las no item A busca de novas linguagens, além de todas as anteriores. Isso pode ser verificado pela presença das matérias correlatas exibidas no quadro de previsões meteorológicas no formato de nota coberta, narrado pela apresentadora do quadro em questão, que interagem com as previsões de clima e de temperatura nas regiões do país. Além disso, há a interatividade entre a apresentadora do quadro de previsões meteorológicas e os âncoras do JH, o que faz com que o conteúdo seja passado de uma maneira mais leve. A especialista em Semiótica, Virgínia Moraes (apud TOURINHO, 2009) sugere à notícia vários pontos de vista, associando também qualidade ao conteúdo. As observações do item seguinte complementam a busca de novas linguagens.
A ousadia é outro aspecto existente, com frequência, no quadro de previsões meteorológicas, com ilustrações exibidas de maneira para facilitar o entendimento do telespectador. Beltrão (1969) acredita ainda que a ilustração seja utilizada também para entreter o público. A imagem faz parte do quadro em todos os momentos, seja por meio das ilustrações, dos infográficos ou das imagens de outras cidades. De acordo com Squirra (1995), a imagem pode ser interpretada por qualquer pessoa, mesmo que seja de regiões diferentes, sem muitas dificuldades.
Outra forma de ousadia do quadro está na exibição de fatos nunca antes apresentados, exclusivos.  Beltrão (1969) desperta para a exclusividade trazer a valorização do jornalista, do editor e do público, ao apresentar um fato antes dos concorrentes. Isso é importante para conseguir o êxito e a repercussão da notícia.
No dia 03 de fevereiro, as ilustrações apareceram de maneira inovadora e didática, além das ilustrações referentes às habituais exibidas, como as dos mapas de previsão de temperatura, de umidade do ar e alguns outros que mostram a presença de instabilidades, que provocam tempestades, ventos e ondas altas. A novidade do dia é para ajudar a entender como funciona o cálculo do índice de temperatura. Outra inovação é a presença de uma repórter que interage com a apresentadora fixa do quadro de previsões meteorológicas. Sandra Annenberg finalizou a participação da Flávia Freire com o quadro de previsões meteorológicas, fazendo a interação com uma matéria correlata, como normalmente acontece, antes e após a sua exibição no JH. Com todas essas observações nas gravações do programa, podemos perceber várias técnicas utilizadas, tais como: a interação entre os apresentadores, repórteres e telespectadores em que os âncoras fazem perguntas à apresentadora como se fossem os telespectadores; a linguagem casual entre os apresentadores e os repórteres que decorre como um roteiro de cinema, o que torna ainda mais fácil o entendimento e a identificação do telespectador; e a presença da tecnologia na utilização de ilustrações ou links, com a ajuda de satélites para apresentar imagens de outros lugares ou repórteres.  
Para identificarmos a pesquisa e o desenvolvimento, verificamos, no quadro em questão, a presença do jornalismo científico, com a troca de experiências entre jornalista e especialista. Com a ajuda de ilustrações e da linguagem coloquial, o JH inclui o telespectador nessa experiência para valorizar o conhecimento e o desenvolvimento de todos. Para Beltrão (1969), se não houvesse uma linguagem de fácil compreensão para um maior número de pessoas, o jornal seria reservado apenas para uma elite. 
De fato, notamos exatamente isso, no dia 21 de janeiro, na entrevista ao vivo com especialista no assunto, o meteorologista Giovanni Doliff do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Além de a entrevista ser esclarecedora, ele ainda faz previsões com a ajuda de um mapa direto do Instituto, da mesma forma utilizada no programa.
Na ilustração do dia 02 de fevereiro, o processo didático está ligado, principalmente, à dona de casa, uma vez que utiliza uma panela para explicar a presença da chuva toda tarde após um dia de sol, em São Paulo, evidenciando a formação da chuva nas nuvens. Nesse mesmo quadro, empregaram-se, também, imagens reais com a formação das nuvens e o momento da chuva.
A Influência e Credibilidade evidenciam a qualidade das reportagens e o crédito dado ao texto. Medina (1988) acredita que o fundamental é que a estruturação cronológica utilizada seja fundamentada na narrativa e, ainda, para afirmar a validade do fato anunciado. Isso pode ser observado com a presença da credibilidade e influência em todos os itens apresentados: nas ilustrações, na entrevista com o especialista, na interatividade presente na internet e entre a apresentadora do quadro de previsões meteorológicas com os âncoras e repórteres, bem como com as matérias correlatas antes e após o quadro de previsões meteorológicas. Sendo assim, em toda a informação apresentada nesse quadro encontra-se a presença de credibilidade e influência com uma estrutura cronológica adequada.
Nas observações, podemos perceber o aumento da visibilidade do quadro de previsões meteorológicas do JH e agregamos ao fato o interesse do cidadão sobre o tema relacionado, por conta das mudanças climáticas. O jornalista Rosental Calmon Alves (apud TOURINHO, 2009) atribui aos avanços tecnológicos as mudanças dos interesses da sociedade, com a transformação da Sociedade Industrial em Sociedade da Informação e Conhecimento. Para Tourinho (2009), além do poder de escolha do cidadão ser multiplicado com a globalização e a tecnologia, a credibilidade será o elemento mais importante na diferenciação de quem de fato merece o crédito.
Notamos no dia 29 de janeiro, na matéria correlata exibida anteriormente ao quadro de previsões meteorológicas, em que a repórter Patrícia Taufer faz uma reportagem com as histórias de tragédias e caos urbano consequentes das chuvas. Observamos, na reportagem, o interesse da repórter em esclarecer os motivos das mudanças climáticas, com a presença de dois especialistas no assunto – o que proporcionou a credibilidade da informação –, além das imagens apresentadas como fato histórico ao telespectador, que aparece como cúmplice por ter vivenciado aquele acontecimento, e aos que assistiram a elas.
Seguindo esses passos, examinamos, nas exibições das matérias correlatas, a importância em despertar ainda mais o interesse do telespectador pelo tema meteorológico com a credibilidade – marcada pela presença de especialistas que esclarecem as questões das mudanças climáticas – e com as imagens exibidas – que transformam o telespectador em cúmplice, por apresentar fatos em que eles são os coadjuvantes, já que o protagonista é a natureza.
As observações quanto à duração de tempo de exibição evidenciam o aumento de visibilidade do quadro de previsões meteorológicas no JH. Durante os quinze dias de gravação, percebemos que os menores tempos de exposição das previsões ocorreram aos sábados, dias em que não há a participação da apresentadora do quadro. Nesse dia, as previsões meteorológicas são narradas pelo âncora do JH, no formato de nota coberta. Nos dois sábados gravados, a duração não chegou a 1 min.. Já nas apresentações de segunda a sexta, o mínimo de tempo na exibição foi no dia 18 de janeiro, com 01min29s., e o máximo no dia 21 de janeiro, com 02min43s.. Foram quatro dias em que a permanência no ar passou dos 2 min.. Em dois dias, a extensão no ar ficou próxima de 1min30s.; em quatro, ela passou de 1min40s. ; e em três, ultrapassou 1min50s. Notamos, assim, uma mobilidade no tempo de sua exibição de uma forma crescente, comparada às apresentações antigas, quando não existia a presença de um jornalista específico para apresentação do quadro de previsões meteorológicas.

Considerações finais
Despertamos para o aumento do tempo de duração do quadro de previsões meteorológicas no ar. O que fortalece a hipótese de tal fato ocorrer, por conta do interesse do telespectador pelo assunto.
Podemos acrescentar, ainda, a importância dada para a soma da imagem com a linguagem, com o intuito de desenvolver o conhecimento do telespectador, com a presença constante do jornalismo científico; com as experimentações ao vivo e de ilustrações explicativas, em que, a cultura do desejo utiliza da ousadia para atrair o telespectador.  Assim, o quadro em questão cria um diferencial em relação aos outros programas, como já havia sido observado por Beltrão (1969) e Tourinho (2009).
Pretendemos avançar nesse campo de estudos, desenvolvendo os critérios do jornalismo científico e as possibilidades da manipulação e da deformação. Além, de pesquisar os fatores que causam as mudanças climáticas e acompanhar a evolução tecnológica das previsões meteorológicas. 

Referências bibliográficas

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Entrevistas:
CAVALCANTI, FERREIRA, MOTTA e MOURA . Sol, Lua, Satélites, Radares: A Evolução na Previsão Meteorológica.Disponível em: . Acesso em: 10/11/2009.


[2] Estudante de Graduação do 6º. semestre do Curso de Jornalismo da UVA - CF, email: dreamorais@gmail.com.
[3] Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo da UVA-CF, email: heloizareis@hotmail.com.
[4] Em entrevista para a reportagem “Sol, Lua, Satélites, Radares: A Evolução na Previsão Meteorológica” Reportagem publicada no Blog de Andréa Morais em 6.ago.2009. Ver endereço em Referências.
[5] Cf. nota 4.
[6] Cf. nota 4.
[8] Cf. nota 4.

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